sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O que é o Friðr ?

Olá caros leitores, conforme havia informado na postagem anterior, hoje vamos adentrar um tema que foi brevemente explorado e hoje será melhor esclarecido. Conforme havia falado ao buscar uma religião as pessoas têm uma necessidade, que em geral trata-se do aspecto social de estarem inseridas em um determinado grupo onde vão procurar por uma identificação através da similaridade de crenças, teorias e práticas e a busca pela paz de espírito, almejando tornar mais leve e dar um maior sentido a sua existência e a outras questões ao redor dela num mundo cada vez mais caótico, materialista, e artificial.

Pois bem, em que pese a existência de datas para serem celebradas, de divindades para serem conhecidas, de sagas para serem estudadas, runas para serem entendidas, os segredos do Galðr e do Seiðr para serem desvendados, todo o esforço para o acúmulo desse conhecimento vai se tornar em vão, a menos claro que você só seja um acadêmico/historiador ou curioso/entusiasta da cultura nórdica. Então se pergunte por qual motivo você buscou esse caminho para que ele faça sentido e você perceba em si o quão perto ou longe está dos seus objetivos. E um objetivo que deveria ser conhecido e comum a todos é a busca pelo Friðr e é do que vamos tratar agora e ao final vão entender o peso dessa palavra.

Atualmente entendemos que Frith é uma palavra do Inglês Antigo falado na época medieval com significado similar a palavra e sentimento de paz, no Nórdico Antigo temos o termo por friðr. Porém ao abordar o tema como paz, devemos nos distanciar do típico paradigma de paz trazido com o monoteísmo cristão para nós, pois o sentimento e o significado da palavra é bem mais abrangente. Friðr também simboliza paz, mas de um universo de ideias paz é apenas uma delas. 

Entenda que você é dono ou tem parte em um terreno que será uma fazenda, para esse terreno prosperar ele precisa estar estável, protegido e seguro, todos devem trabalhar arduamente nele cada qual fazendo aquilo que melhor sabe, e assim esperar que uma boa colheita venha e os frutos desta colheita sejam repartidos igualmente entre as pessoas que trabalharam, equivalente claro ao esforço de cada um nesta colheita. E caso essa plantação seja ameaçada seja por alguém que quer essa colheita, pelo mal tempo, por ameaças internas na própria colheita, como pessoas ambiciosas, descontentes ou meramente sabotadoras, todos que nela trabalham e querem ver ela prosperar devem se unir e proteger a colheita para que ela possa continuar a dar frutos. A ordem estabelecida, a lealdade adquirida, os frutos colhidos da prosperidade e até a festa pelo trabalho desenrolado, num todo serão o Friðr alcançado.

Então o Friðr não se resume meramente a buscar estar em paz, paz costuma ser um dos resultados da busca pelo Friðr mas de longe é o principal e o único. Nós vemos no esforço das divindades Æsir em criar um mundo para elas Ásgarðr, proteger esse mundo e colher os benefícios desse mundo criado e protegido por elas, um paralelo na busca pelo Friðr. Nesse ponto podemos observar a guerra e armistício com os Vanir e as constantes adversidades na qual os Jötnar (dada sua natureza caótica) tomam lugar como principais antagonistas uma forma da manutenção deste Friðr. Assim como o esforço deles em criar Miðgarðr e designar um protetor à humanidade e auxiliar a humanidade em seu desenvolvimento e orienta-la na direção de um comportamento mais favorável a busca deste objetivo.

Logo como podem perceber Friðr compreende não somente paz, mas bem como cooperação, ordem, harmonia, lealdade, proteção, amizade, estabilidade e segurança. Todos esses elementos compreendem o universo deste objetivo final que é o Friðr. Bom entendido o seu conceito, vamos compreender suas fontes.

Você e os seus próximos - No nível mais individual possível a sua relação com os demais será sua fonte de Friðr. E é importante observar que esses demais envolvem principalmente sua família sanguínea, seu kindred se este for o caso e as pessoas que amamos que podem estar em um dos dois grupos anteriores como aquelas que denominamos nossos amigos mais próximos. Nesse ponto estamos nos referindo quanto ao seu comportamento salutar com essas pessoas e grupos de pessoas, logo as suas responsabilidades para com elas, as alegrias, os fardos, as liberdades e a natural relação de mutualidade com essas pessoas. 

O povo e sua liderança - Num nível mais amplo ainda que incomum aqui em terras tupiniquins, mas esperamos que futuramente não e busquemos trabalhar nesse sentido, outra fonte de Friðr é o laço de lealdade entre o povo e seus líderes, no caso ai entramos em uma relação de confiança e expectativa, aonde o líder de um kindred, de uma aliança de kindreds, de alguma representatividade popular, demonstre através não só de palavras e pensamentos, mas bem como atos, merecedor do seu privilégio e capaz de carregar seu fardo com dignidade. E muitos se perguntam por qual motivo essa relação é uma fonte de Friðr. Bom sabemos que em um mundo influenciado pelos conceitos políticos de Democracia lideranças, principalmente não carismáticas e não cooperativas com o povo são facilmente alvo de desrespeito e perdem sua credibilidade, porém um Estado sem uma liderança (e veja que liderança não se confunde com ser dono) é um Estado sem rumo ou direção, um local de incertezas, onde hoje a lei está ali e amanhã não está mais, ou só para uns e não para outros. Não há paz, não há segurança, não há como prosperar (talvez só através de oportunismo). Então imagine agora se um belo dia todos os deuses de Ásgarðr se voltem contra Óðinn? Com tamanhos poderes presentes quem seria o mais apto a guiar? Os Jötnar não se aproveitariam da situação? Estariam prontos para viver em meio ao caos resultante? Então a lealdade entre o povo e suas lideranças é sim uma fonte de Friðr. Ainda que aquela liderança possa não vir a ser um familiar, ou mesmo um amigo próximo, é uma relação de confiança necessária, que busca o benefício coletivo.

Nós e o mundo sagrado - Por fim e primordialmente importante a nossa relação com as divindades e demais entidades espirituais é uma fonte de Friðr. Bom é fácil gostar de algumas bandas, deste ou daquele jogo, ter um martelo bonito no pescoço, ter estudado vários livros e se orgulhar do grande erudito que é no saber do universo pagão nórdico. Mas isso não é espiritualidade, isso não é contato com os Æsir e por fim isso não é fonte de Friðr. Você tem a sua liberdade mas você também têm as suas responsabilidades e numa religião que preza pelo respeito aos ancestrais, não lembrar das divindades, ou só lembar delas por tal dia da semana ser o dia daquela divindade é ser um péssimo exemplo de integrante daquela fé. Nós não somos cosplay de Vikings, nós não somos só um fã clube de bandas, muito menos um lugar fácil "para se pegar alguém", nada contra quem quer curtir a vida, mas nós somos algo sério ou nós não somos nada. Então se fazer blóts, conhecer sobre as divindades, trabalhar pelo friðr, buscar trabalhar sobre quem você é, ajudar aqueles que precisam de ajuda nesse caminho, se tudo isso for chato para você, faça um favor a si mesmo, não se rotule, siga em frente, não se iluda e não iluda ninguém, tem gente séria trabalhando por aqui. Mas se você sabe o quanto isso é sério e vai se orgulhar do seu trabalho em si, nos outros ou com os outros, seja bem vindo, faça o melhor que puder da forma que puder e isso por si só será louvável.

Encerrando e não sendo menos importante, buscar pelo Friðr não significa que você vai gostar de todo mundo, que você vai ser um hippie aplaudindo o por do sol, nem que você tem que engolir familiares, falsos amigos, ou condutas equivocadas dentro do seu kindred, nem ficar correndo atrás dos outros pela fé dos outros, quem não quer trabalhar dificilmente terá do que desfrutar. Buscar o Friðr também é buscar preservá-lo e numa plantação, pragas devem ser retiradas ou todo trabalho será perdido, nem tudo vai depender de você, mas faça a sua parte e aqueles que realmente seguem a fé vão te ajudar e no futuro você será lembrado por todo o trabalho que fez e até lá aproveite todas as colheitas que puder e garanta as próximas para que o trabalho dos outros que vierem possa continuar. Encerramos sobre o Friðr espero ter esclarecido. 

Semana que vem talvez não haja postagem por conta do Carnaval pois estarei viajando e também ocupado, mas os trabalhos continuam. Mais uma vez obrigado pela sua paciência e pelo seu tempo. Far vel!

- Heiðið Hjarta.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Entre a expectativa e a realidade.

Bom dia caros leitores, em minha última postagem iniciei alguns temas onde faço a sugestão que os novos heathens busquem dar uma maior atenção a eles por se tratar de pontos que vão acompanhá-los desde o começo de sua caminhada dentro de nossa religião rumo ao amadurecimento da sua espiritualidade. Como se trata de uma religião na qual a informação não é centralizada, a pesquisa será uma constante, a reflexão das suas pesquisas também, claro que nada impede você de confiar no estudo prévio feito por alguém, mas se apoiar apenas na reflexão alheia é deixar de viver e realmente aprender no próprio caminho, deixar inclusive de somar para as gerações futuras do nosso caminho, então não espere que um Goði/Gyðja ou Skald vá saber tudo ou te falar tudo, eles não vão, até o Alföðr têm seus corvos para saber mais e ele mesmo andava por ai para aprender mais ainda.

Uma outra expectativa comum é acreditar que você está entrando em um mundo onde você deverá aprender a jogar runas, descobrirá que é sensitivo e diferente, vai se deparar o tempo todo com entidades espirituais, vai buscar viajar os nove mundos, buscará por Galdr e por Seiðr e que você vai sair fazendo todo tipo de magia que conseguiu ler nesta ou naquela Saga, isso se você leu alguma Saga, ou neste e naquele livro. Eu sempre tive o costume de lembrar as pessoas que nem todo fazendeiro tinha que ser também uma pessoa que jogava runas, e se você conseguir fazer os dois ótimo, ninguém está dizendo que é proibido, mas você não é menos especial ou importante se não trabalhar com Galdr ou Seiðr, e as descobertas vêm com o tempo, até  Skollvaldr precisou de nove dias e nove noites para descobrir muita coisa que não sabia, vá com calma.

Gostar de algumas bandas, pendurar pingentes no pescoço, fazer uma tatuagem e saber o básico pode parecer ser o suficiente mas não passa de uma armadilha. Quem não cuida da sua plantação não sobrevive ao Inverno. Nada contra o seu gosto musical, é até interessante que de alguma forma pois isso propaga a sua religião de uma forma mais simples e acessível, mas você vai continuar preso ao conceito de virtudes e pecados, vai continuar vendo o sagrado distante de você, as divindades como novos mestres, vai esperar por um céu e por um inferno, vai acreditar no Ragnarok como uma batalha entre o bem e o mal, vai ver Loki como o principal antagonista de tudo (incrível como ninguém lembra do Surtr) e o pior de tudo... Vai ficar gritando na internet Hail hoje é quarta feira dia de Óðinn. Não precisamos avisar, ele sabe que dia é hoje, guarde sua euforia e determinação para pesquisar, conhecer novos heathens, realizar um blót, etc. Com certeza essa atitude será muito mais louvável da sua parte, você também pode escutar outros gêneros musicais e gostar de outras culturas e isso te trará muitos benefícios Loddfafnir.

Infelizmente nós não somos tão unidos quanto deveríamos de fato, isso se dá por inúmeros motivos, mas creio que o principal é algo muito comum na cultura brasileira, a dificuldade de conviver com as diferenças, claro que isso não é uma regra pra todos, mas comum a muitos e apenas um reflexo de uma sociedade que foi colonizada por um povo que já trazia todo o paradigma preconceituoso e limitado que os Católicos Europeus carregavam. Ai mais uma vez serei chato, ou insistente, ou preocupado e recomendo essa auto avaliação tanto nos novos quanto nos velhos (e principalmente nos mais velhos), sobre o quanto nós não deixamos de nos ajudar como um povo e ficamos resumimos a segurança e conforto de nossos Kindreds? É algo um tanto quanto difícil de lidar, mas o fato é que é nas diferenças que aprendemos, afinal Gangleri já andou entre os deuses, os Jötnar e entre os humanos para aprender uma ou outra coisa.

E por fim lembre-se, somos todos iguais, cada qual único a sua maneira, mas iguais. Não é seu sangue, sua orientação sexual ou mesmo sua visão política que vai determinar quão louvável você é, mas sim seus feitos e o reconhecimento. Reflita mas faça e então seja! É inevitável e não caberá a nenhum de nós mortais dizer a você se os Æsir e os Vanir te aceitam ou não e se esta ou aquela divindade virou a cara para você e se afastou de ti. Essa relação é extremamente íntima e é até perigoso acreditar em alguém que diz o que uma divindade acha ou deixa de achar de você, muitos de nós heathens mais velhos parecem insistir em ter respostas pra tudo, cuidado pois nós também erramos. Estes seres divinos têm suas características, um é caolho, o outro é maneta, aquele é beberrão, e este é mentiroso, aquela é obcecada pela beleza e aquela outra houve dá ouvidos aquele que ninguém normalmente daria. Eles são bem parecidos conosco, não busque por pureza e perfeição apenas pelas suas naturezas, e como disse nem são nossos mestres, mas nossos amigos e por ultimo e não menos importante, por mais que você goste de um deles e tenha uma afinidade absurda com este ou aquele, lembre-se você é um ser humano, não é uma divindade, faça o seu papel e deixe que ele ou ela faça o seu devido papel, na natureza tudo tem o seu devido lugar e nós fazemos parte disso.

Para a próxima semana vou abordar novamente o tema Friðr de forma mais detalhada e feito isso seguimos em frente com outros conceitos da espiritualidade, com quem são as divindades, quais são as demais entidades, quais são os mundos e a infinidade de assuntos que cercam nosso mundo. Aliás até lá, os que desconhecem os termos e nomes colocados aqui em itálico, fica a dica de pesquisarem durante a semana e assim aprenderem um pouco mais. Novamente muito obrigado pelo seu tempo e até semana que vem. Far vel! 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Tirando as pedras do caminho.

Caro leitor, bom dia e seja bem-vindo. O tema que vamos iniciar hoje é um assunto básico porém muitas vezes abordado de forma superficial ou sem a devida objetividade. Ao buscar uma religião as pessoas têm uma necessidade, em geral trata-se do aspecto social de estarem inseridas em um determinado grupo onde vão procurar por uma identificação através da similaridade de crenças, teorias e práticas e a busca pela paz de espírito, almejando tornar mais leve e dar um maior sentido a sua existência e a outras questões ao redor dela num mundo cada vez mais caótico, materialista, e artificial.

Quando estamos falando em Odinismo, Ásatrú e demais seguimentos menos populares por aqui estamos falando de rótulos, vertentes com as quais nos alinhamos na maioria dos seus pensamentos, ainda que instituições, kindreds e heathens individualmente venham divergir de terminologias, interpretações e desta ou daquela “regra”. Em parte isso ocorre pela liberdade que caracteriza o paganismo e também pelas agendas pessoais de kindreds e instituições divergirem ao buscar implantar seu ponto de vista através da divulgação de informação e no processo de formação do conhecimento de novos heathens.

Porém nesse universo de pensamentos e comportamentos que forma o paradigma daquele que procura se enquadrar numa religiosidade como a nossa, muitos pensamentos e comportamentos anteriores corrompem o caminho do heathen seja pela falta de informação ou seja pela má formação da sua opinião e consequentemente da sua visão sobre nossa fé.  Então tratemos dos equívocos mais comuns:

Da Descendência – Muito comum é o errôneo sentimento de dúvida sobre a viabilidade de uma pessoa descendente de povos não germanos e não escandinavos poder integrar nossa religião. Isso se dá em parte pelo forte, e não incorreto, pensamento de se honrar e lembrar daqueles que vieram antes de nós. Porém vamos lembrar que estamos falando de Miðgarðr e não só do continente Europeu (não suportaria a ideia de seguir deuses tão limitados), também vamos lembrar que a espécie humana descende do processo criativo das mesmas divindades, e não este ou aquele ramo étnico, e por fim lembre-se, mesmo entre os deuses muitos foram os casos de trocas, através de casamentos que resultaram em filhos, através da troca de cultura, da cooperação e dos conflitos. Logo são as divindades que devem te aceitar, não um fiscal de genética com problemas de auto estima de plantão.

Da Cultura – Muito esperado que as pessoas que sigam as divindades que foram presentes em uma determinada região deste mundo busquem entender e simpatizem ou se identifiquem com a cultura dos povos daquela região. Você não está puxando o saco de nenhum gringo por cultuar os mesmos deuses que os ancestrais deles cultuaram, mesmo porque devemos lembrar que você está resgatando uma fé que foi abandonada por boa parte dos descendentes daqueles que a cultuavam anteriormente e que atualmente, apenas parte deles, busca uma reaproximação com ela. Óbvio que isso não obriga você a SER um escandinavo, logo parabéns se você sabe e pode falar na língua que eles falavam, viver onde eles viviam, se vestir como eles se vestiam ou comer e beber o que eles comiam e bebiam, mas se não puder não se preocupe, entidades tão poderosas como os deuses não têm sua compreensão e alcance tão limitados como nós temos.

Da Desconstrução – Não adianta buscar por novas metas carregando as velhas pedras. Você vai ouvir muito o termo reconstrucionismo, a busca pela aproximação da forma como o mundo era entendido e de como as coisas eram praticadas pelos antigos heathens, mas vai ouvir pouco sobre desconstruir, para criar algo novo é preciso destruir o antigo, destrua-se. Muitos heathens buscaram esse caminho pelo menos em “terra brasilis” por uma aversão a imposição do cristianismo, seja ele protestante, católico ou ortodoxo em sua infância, fazendo com que a busca, normalmente iniciada na adolescência onde se rebelar e contestar é a regra, se torna comum a mudança de visões políticas e religiosas e muitos vão iniciar seu caminho para a nossa fé nessa época e amadurecer aos poucos. 

Porém, durante esse período é muito difícil fazer uma auto avaliação com a devida maturidade, difícil em qualquer época da vida, e a evolução do caminho majoritariamente se dará com conceitos morais e religiosos já pré-concebidos de experiências anteriores tais como bem e mal, um inferno e um paraíso, a servidão, medo e distância do mortal perante o divino, o isolamento do ser humano como algo distinto da natureza, a busca por vícios e virtudes e por fim um livro ou texto sagrado pra usar de base pra sua conduta ou para julgar o comportamento alheio. Por ser um tema extenso será melhor destrinchado em oportunidade futura. Mas em resumo tais pensamentos e comportamentos devem ser estudados, entendidos, desassociados e por fim extirpados do seu caminho e de si a menos que queira fazer um sincretismo – e eu pessoalmente não vejo muita vantagem em sincretismos religiosos, sejam no paganismo ou fora dele – entre a antiga religião que seguia e seu novo caminho, vivendo duas coisas distintas como se fossem uma só sem evoluir em nenhuma delas.

Do Friðr – Então você escolheu este caminho, mas por qual motivo? As religiões têm suas entidades, seus conhecimentos, seus entendimentos, mas o que essa tem a te oferecer que você busca? Bom, você já ouviu falar da iniciativa Friðr? Pois é, piada a parte, um dos elementos mais fundamentais em nosso meio é ignorado constantemente por aqueles que estão chegando, e por muitos que já estão entre nós a tempo também, e por conta disso muitos indivíduos em nosso meio acabam sendo fonte de conflito ao invés de Friðr. Apesar de ser um tema extenso vou tratá-lo de forma breve e futuramente será melhor debatido. Do inglês antigo Frith, a palavra se aproxima do conceito de paz, porém está muito longe do clássico pacifismo, de uma passividade ou mesmo de uma apatia. Um estado psicológico que te traz na maior parte do tempo uma combinação de alegria, lealdade e segurança, trata-se de um pensamento acompanhado por um comportamento, ambos verdadeiros e livres, onde se busca este estado harmônico, saudável e seguro junto ao seu kindred (se você fizer parte de um) e Amigos (não conforme a ideia de amigos do Facebook). Esse pensamento-comportamento também se replica ao relacionamento que ocorria/ocorre entre a lealdade do Povo para com seus Líderes e por fim do Povo com o mundo sagrado, o que envolve as Divindades, Ancestrais, Espíritos da Terra, etc, através do blót, das festividades comunitárias e principalmente do pensamento-comportamento promovendo esse sentimento de um estado livre, harmônico, saudável, amistoso e seguro, promovendo o Friðr. Resumindo não adianta trocar presentes em uma data do ano e trocar elogios, facadas, espadadas e machadadas no resto do ano.

Esses são aqueles que considero os principais pontos de conflito e confusão que um heathen no começo do seu caminho deve acabar por se defrontar e que sem uma auto avaliação e talvez um auxílio externo, possa a vir construir sobre si todo um paradigma de ilusões que pode ter como desfecho uma natural decepção e por fim abandono do caminho e talvez até indo a busca de outro caminho, então vamos clarear essa estrada e evitar tropeçar nessas pedras.

Alguns dos temas aqui serão abordados futuramente de forma mais detalhada conforme a necessidade. Espero que tenham gostado deste ponta pé inicial, críticas construtivas, sugestões e dúvidas são bem vindas no comentários e oportunamente poderei ler e responder se necessário. Agradeço a atenção de todos e semana que vem seguimos mais um passo, pois nossa caminhada é longa. Far vel!

Heiðið Hjarta.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Boas vindas! Novamente :)


Caro leitor, amigo, conhecido, crítico ou curioso, permita me apresentar.

O nome pelo qual assinarei todos os futuros trabalhos neste blog é Heiðið Hjarta, nome que adoto para a composição dos meus poemas, para a tradução de trabalhos e que a tempo uso nessa rede virtual. Alguns de vocês já me conhecem por Heiðinn Hjarta escritor do antigo blog O Pertubardo, que há anos deixei de publicar por ter entendido o mesmo ter alcançado seu propósito na época em que foi concebido. Entretanto o tempo passa, as circunstâncias mudam e as motivações também, aprendemos com nossos erros, mudamos nossos conceitos e não importa quão longa seja a nossa caminhada sempre teremos mais a aprender e ensinar, um simples exemplo é que o nome que usava para assinar os trabalhos estava ortograficamente errado, que coisa não? Pois é errando posso aprender e melhorar, mas se estiver cheio de certezas, pouca coisa vou poder mudar, reparar e aprimorar.

Atualmente me encontro na casa dos 29 invernos, em uma época em que uma nova bagagem de experiências complementou minha visão e meus estudos sobre tudo que tive até agora. Estou nesse caminho do paganismo desde os 16 anos de idade, onde nas minhas buscas por respostas me identifiquei e entendi que havia um lugar no mundo para alguém como eu. Após passar por estudos e experiências pessoais e coletivas, pesquisas, traduções, palestras e demais trabalhos comigo e com demais indivíduos entendi que seria interessante auxiliar aqueles que um dia passaram pelas mesmas dificuldade que enfrentei, ou por dificuldades parecidas. Falta de informação apurada, apoio externo que pudesse orientar meu caminho quando tivesse dúvida, kindreds ou indivíduos que pudessem me auxiliar sem tentar me recrutar para suas necessidades ou me moldar conforme suas crenças.

Eu entendi que cada um de nós possui a sua natureza e que muitas vezes isso é ignorado até por quem tenta nos ajudar e que nem todos nós estamos prontos ou se quer desejamos ficar em meio a livros, pesquisas e debates acadêmicos de reconstrucionismo, ou a ambição, determinação e a responsabilidade de estar a frente de um kindred. Também há aqueles que não encontram harmonia em seguir todos os caminhos de uma vez só e por isso escolheram buscar as divindades de Ásgarðr como amigos e aliados na busca pela sua paz de espírito neste mundo já tão caótico e bagunçado. Pois bem, nos encontramos juntos nessa caminhada e dentro da minha experiência vou ajudá-los da melhor forma que puder dentro do tempo que dispor. O propósito do Blog é informá-los dos mais variados temas, desde o conhecimento que abrange as divindades e demais entidades dos mundos que cercam Yggdrasil, passando por questões da espiritualidade, sobre magia e até temas mundanos que enfrentamos no nosso dia a dia. 

Eventualmente também vou divulgar o trabalho de pessoas que considero talentosas e de confiança e também alguns poemas relacionado a temática heathen, traduções e demais ensaios literários para terem outras referências, também aceitarei sugestões de temas que serão tratados na medida do possível. Por não se tratar de um blog acadêmico, vou buscar sempre que possível tornar a linguagem acessível e expor a referência das informações e apontar o que é minha opinião pessoal. Vou buscar manter postagens semanais e eventualmente fazer alguma divulgação de algum poema, tradução, trabalho ou artistas que julgar interessante, sem prejudicar as postagens semanais. Lembrando que tudo pode e deve ser refletido e questionado, até o que aqui for postado, você pode até seguir o caminho dos outros mas sua paz de espírito só você é que faz. O nome do blog é uma homenagem a uma estrela do norte chamada Lokabrenna, bem como a própria divindade Loki pela qual tenho um apreço e identificação dada sua forma livre de ser.

Obrigado pelo tempo e pela paciência e nos vemos semana que vêm.

- Heiðið Hjarta.

Loki por Arthur Rackham.