sexta-feira, 4 de março de 2016

As Guerras de Midgarðr.

Bom dia nobre visitante, seguindo para a oitava postagem, dessa vez sairemos um pouco do acadêmico, mas retornaremos a ele ao final da postagem, vamos falar do cotidiano. 

Dado a um evento recente, mas diria nada inovador se não apenas recorrente, e dado o direcionamento que parte do heathenismo/paganismo tem seguido ao redor do mundo, farei uma reflexão sobre nossa senda espiritual e nossa atitude em relação aos demais caminhos que nãos nos pertencem ou que os mais sensatos não buscam trilhar. O texto não busca defender nenhuma orientação político-ideológica, uma vez que nossa fé não está ligada as atuais correntes de pensamento políticos, filosóficos e econômicos que compõem esse mundo pós-moderno e seus frágeis valores. 

O evento se refere a um boletim dominical de um Reverendo de uma Igreja Presbiteriana de culto do município de Barra do Piraí no estado do Rio de Janeiro – vulgo terra do biscoito, abraços aos amigos fluminenses e cariocas, além de um alerta aos grupos de patrulha xenófobos e racistas que vêm crescendo na Europa como o mais famoso Filhos de Odin (por qual motivo eles insistem em colocar chifres nos elmos?).

Batalhas em nossa fé existem desde a criação do mundo através da morte de Ymir até o último sopro de vida do último de nós ao deixarmos Midgarðr, conforme conta as bases de um eventual Ragnarök. Temos em nossa crença exemplos claros de conflitos entre clãs como a guerra Æsir-Vanir e a nada pacífica relação constante com os Jötnar, bem como também entre as mais diversas divindades, além da própria história dos povos que nos legaram essa crença espiritual, desde sua chegada nas terras da Europa, enfrentando a exemplo Celtas e o Império Romano, até as batalhas contra a cristianização da Escandinávia contra Olaf, o Gordo (Óláfr Tryggvason). Enfim uma continua história de longos tempos de guerra e curtos tempos de paz.

Atualmente vivemos num mundo onde os conflitos políticos, religiosos e comerciais fomentam constantemente a desgraça e a alienação, fazendo com que poucos prosperem, muitos cobicem e alguns oportunistas lucrem com esse abismo entre o que é desejado e o que é necessário. Por fim vivemos em uma sociedade em que o descontentamento é crescente e todas as partes que a compõem parecem não mais se suportar, estando num espectro geral com os nervos à flor da pele, tomando tudo por ofensa e condenando a atitude do próximo sem se quer saber quem é o próximo, se a atitude é real ou se quer qual foi sua motivação.

Logo com tal cenário nos rodeando, não seria sensato pedir a vocês que sejam pessoas pacifistas - Óðinn, Þórr, Týr e Freyja provavelmente pegariam meu couro e Loki não me ajudaria nessa - pois esse pacifismo além de não funcional a curto prazo e temeroso a longo prazo, não é algo para o qual nascemos. A vida é uma luta, no mínimo pela sobrevivência, por mais civilizado que seja o mundo, então no mínimo nascemos para lutar ao menos pelo nosso lugar no mundo. Logo a questão não é sobre não lutar, mas sim pelo que lutar e contra o que ou quem lutar.

“Com leis nossa terra deve ser construída e estabelecida, e com injustiça arruinada e devastada. (Njal's Saga, c.69)”

“Cada um é senhor de suas próprias palavras. (GS, C.19)”

Quando falamos sobre cometer equívocos e sobre a inevitável responsabilidade sobre os resultados desses equívocos, entendemos que é necessário punir aquele que perturbou a paz e a ordem em nosso meio. Não há perdão, o perdão é conviver com o peso do seu erro e através dessa reparação punitiva é que podemos tentar trazer novamente alguma paz ao ofendido em meio ao povo e dar a pessoa que cometeu o erro a chance de entender a gravidade de seus atos.

Entretanto as palavras de um representante de uma fé ou mesmo os preconceitos daquele indivíduo em relação aos demais que não fazem parte da sua fé, não pode ser pretexto para condenar o pensamento e o comportamento de todo um grupo. Assim como não atacamos roteiristas e fãs da Marvel por dar uma nova interpretação cultural das nossas divindades, ou aos Wiccanos por descaracterizarem algumas de nossas divindades através da sua forma de crer nelas através do seu dualismo Deus/Deusa, ou não condenamos a nós mesmos por infelizmente existirem neonazistas entre nós, não podemos condenar todos os cristãos pelo panfleto ofensivo deste ou daquele pastor, ele está vendendo o peixe dele para cristãos desinformados, não para você que está estudado, não se iguale.

“11. A mão que quer bater espera pouco. [1] (Njal's Saga, c.133)”

“18. As noites de sangue são as noites de maior impaciência. [3] (VGS, c.8) (VA, c.24)”

Muitas são as palavras de coragem em tempos de prosperidade, mas poucos são aqueles cujas ações correspondem às palavras corajosas em momentos de aflição.

Na era digital a informação é constante e dificilmente se tem tempo de avaliar a veracidade ou o conteúdo dela, quando há disposição para isso. Logo observadores superficiais se darão apenas ao trabalho de julgar o fato pelo seu ressumado título. Então está armado um tribunal virtual “muito elucidado” dos fatos, com todo o seu direito que têm herdado de eras de “nada” dizer se isso ou aquilo é errado e o que deveria ser feito. E ai morrem os fatos, muitos uivos, latidos e rosnados, nenhuma mordida. Incitar o ódio é gerar a ignorância e usar tal força para apenas julgar algo que é desconhecido é um desperdício de força sem tamanho, se acha que algo realmente está errado, resolva. Afinal assim como o pastor imoral que tenta converter o povo ao seu discurso sem sentir na necessidade de se prender as suas próprias palavras, tal ódio propagado entre os heathens é muita coragem quando não é necessário lidar com a adversidade de fato e menos ainda com as suas consequências.

“65. Não lute contra muitos. (VS, c.11)”

“66. Melhor lutar e cair do que viver sem esperança. (VS, c.12)”

Outro fato importante é que pela nossa religião estar sendo resgatada e reconstruída aos poucos há um tímido movimento em direção de integrá-la junto a sociedade, primeiro por não sermos adeptos do proselitismo e segundo por ser muito mais fácil e cômodo estudar, ler, debater do que colocar em prática tudo que é estudado, lido e debatido e não trazer esse conteúdo prático para o seu dia a dia na forma de atos e também para a junto da sociedade. Afinal parece que a boa e velha expressão “católico da boca pra fora” não é uma exclusividade dos católicos. Logo com uma casa ainda sendo arrumada, ainda desestruturada, desunida, sem o devido suporte aos que dela fazem parte, como reclamar algo contra alguém, como desejar guerra quando não se tem sequer um exército para lutar essa guerra? 

E necessário conviver com a realidade, fortalecer a nossa fé, aproximar os kindreds, dar apoio aos heathens que estão sem suporte, mas respeitar também aqueles que preferem a solidão, expor quem são os exotéricos mal intencionados que iludem as pessoas que buscam conhecimento e orientação espiritual, é necessário sempre estar alerta as pessoas e grupos que buscam distorcer o nosso caminho com seus ideais extremistas, segregacionistas e preconceituosos, como infelizmente tem ocorrido de maneira mais recorrente na Europa e nos EUA. É necessário dar a nossa fé um aspecto cultural visível em meio a sociedade e um aspecto unificado, é necessário essa união não só quando nos sentimos ofendidos, mas também quando precisamos ajudar uns dos outros, ninguém prospera sozinho. 

Nós temos mais de uma luta, devemos priorizar qual delas é mais importante para nós e para o nosso futuro e para o futuro dos que virão depois de nós. E por fim...

“230. O tolo se ocupa com as afazeres de todos menos com os seus próprios. (HS, c.14)”

Concluída essa reflexão, espero que tenha sido dado o recado. E aos que se preocupam demais conosco e que atrapalham nosso caminho, que não haja Friðr para eles e que Loki se divirta fazendo o caos na vida deles. Vamos fazer o que precisa ser feita, cada qual da melhor forma que souber fazê-lo.

As frases citadas nesta postagem fazem parte de uma coletânea de trechos de sabedoria inspiradas nas sagas islandesas.

O nome do texto é Sögumál e seu trabalho é atribuído a Álfta Óðinssen.

Aqui segue o Link direto de acesso ao texto (em inglês):


E aqui segue o site que é atribuída a fonte do texto rico em sagas e demais informações (em inglês):


Obrigado pelo seu tempo e interesse, façam bom proveito das reflexões de dos links. Tenham um ótimo fim de semana e até a próxima postagem. Far Vel!

- Heiðið Hjarta.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Minha liberdade ou meu destino? Sobre Ørlög, Wyrd e Orthanc.

Boa tarde caros visitantes, hoje vamos abordar um tema importante através de uma tradução de um texto sobre os conceitos de Wyrd e Ørlög. Através dele entenderemos melhor o quanto do que nos cerca e ocorre em nossas vidas é Destino e o quanto é nossa pura vontade e liberdade, assim você vai poder entender melhor questões sobre se tudo está pré-determinado ou não e o que pode ser feito sobre isso. Com esse esclarecimento, questões simples como: só por que eu estou sem guarda-chuva está chovendo ou os deuses quiseram assim até o destino dos nossos atos e quanto crédito você dará ao Ragnarök vão estar mais claros para você.

"Os conceitos de wyrd e orlog estão interconectados, mas às vezes podem se provar ser obstáculos na medida em que seus significados são aprendidos. No paganismo nós não temos nenhum conceito absoluto sobre o destino de alguém, ao invés disso nós temos uma noção de que nosso destino ou ruína é composto por escolhas e um determinado destino acontecerá, nós também temos a habilidade de fazer outras escolhas para potencialmente mudar este destino. Para entender como o wyrd e o orlog estão ligados vamos explorar os significados dessas palavras.

O Dicionário Conciso de Etimologia Barnhart (Nt. The Barnhart Concise Dictionary of Etymology) nos dá um esclarecimento, vindo do Inglês Antigo o termo wyrd deriva de um termo do Germânico Comum * wurđíz. Wyrd tem um cognato em Saxão Antigo wurd, no Alto-alemão antigo wurt, e no Nórdico Antigo urðr. A raiz Proto - Indo - Europeia é *wert- “virar, rodar”, no Germânico Comum *wirþ- com um significado de “A acontecer, tornar-se, a ser devido” (também em weorþ, a noção de mérito “Worth” ambos em sentido de “preço, valor, montante a ser pago” e “honra, dignidade, estima devida”).

Essa é uma resposta complexa eu sei, mas é para ilustrar que esta palavra é altamente cheia de nuances. De forma mais simples podemos definir como nosso conceito nativo de Destino, e a raiz da palavra é também de onde vem a Divindade Urd, ela é uma das Nornas cuja fonte Urdabrunnr rega a Árvore-Mundo Yggdrasil.

As tecelãs da teia, as Nornas, são os poderes aos quais todos os Deuses e Deusas recorrem por sabedoria; isso pode ser demonstrado etimologicamente. Paul Bauschatz expande sobre nossa compreensão em eu Well and Tree, onde ele descreve a origem do nome de Urðr, o verbo verda que significa “virar” não é apenas a fonte do Alemão werden, mas do Alto Germânico Médio wirtel “roda roca, spindel (fuso em alemão) também”. Tecelagem e fiação de matérias têxteis podem facilmente se tornar um microcosmo num grande macrocosmo da tecelagem a teia da existência.  John Lindow vê que as Nornas foram muito associadas com fiação e controle do destino de uma pessoa, e nós sabemos que Urðabrunnr (Fonte de Urðr), enraizada na Árvore-Mundo, era onde os Deuses tinham seu lugar de justiça. Nós vemos essa conexão com a justiça nas entrelinhas ainda, como as origens etimológicas para a palavra versus (como em casos legais) também deriva da mesma família de palavras (vertere, Proto-Indo-Europeu wert).

Christy Ward, influenciado por outros trabalhos acadêmicos, nos diz que Ørlög é literalmente “ur” significando antigo ou primordial, e “lög” é lei: ørlög é a lei de como as coisas vão vir a ser, ditada pelo wyrd ou Destino pelas três Nornas. As Nornas Urðr (Aquilo que é), Verðandi (Aquilo se torna) e Skuld (Aquilo que deve tornar-se) são a personificação do wyrd.

As Nornas nos dão nosso ørlög, (ou as leis e absolutos de nosso destino), tanto quanto elas em conjunção conosco tecem o wyrd que está se tornando. O absoluto de nosso destinos são esses itens que não podem ser mudados, como quem são nossos pais biológicos, a situação e circunstância na qual nascemos. O passado sempre influência nosso presente e nosso futuro. Pense nisso desta forma, nós sabemos que há certas leis científicas e princípios que afetam todas as coisas, tal como a gravidade.

A gravidade pode ser encarada como uma espécie de ørlög. Enquanto a gravidade pode ditar que nós humanos devemos permanecer na terra, através de nossa engenhosidade construímos aviões, naves espaciais, etc, que podem deixar a terra e até mesmo a atmosfera. Estes itens ainda são afetados pela gravidade é claro, e a gravidade sempre exerce sua força e presença. Similarmente, é como DNA. DNA pode ser o ørlög que nos é dado, nós podemos ser muito suscetíveis a certos tipos de doença, mas se alguém sabe da nossa inclinação genética e a vulnerabilidade e tomar os cuidados necessários na vida para tentar evitá-las é possível, de fato, impedir tais coisas.

Mas enquanto wyrd é o nosso conceito de destino, ele também está mudando e não é absoluto. Nós podemos receber o ørlög, e então a partir de nossas escolhas e ações, e as escolhas e ações daqueles que nos rodeiam, nós conjuntamente podemos “tecer” o que nosso wyrd será.

Para melhor entender como ørlög e o wyrd estão interconectados, vamos pensar nisso como a tecelagem de uma tapeçaria. Quando se tece uma tapeçaria ou tapete, há regulamente fios espaçados que fluem todos em uma única direção (esses são chamados de linhas de urdidura). Essas linhas sempre existem. Elas são a base da fundação, ou se você preferir as regras. Essas linhas, como o ørlög, não podem ser alteradas.

Para criar o Padrão, para tecer verdadeiramente, alguém então pega fios conhecidos como trama que vão em perpendicular a estes outros fios. É a manipulação destes fios através das linhas da urdidura que nos dão o padrão. Sua trama muda de cores? Quantas linhas de urdidura que os fios de trama passam por cima, antes de passa-los por baixo? Etc.

Portanto, mesmo com ocorre na analogia da tecelagem, o ørlög permanece a estrutura ou a urdidura, e então nossas ações, e todos os outros fatores representam a trama, e através da combinação desses fatores que a wyrd é tecida."

Sobre o conjunto de ørlögs herdados por um indivíduo, damos a isso o nome de Orthanc (herança), mas quem gosta de Tolkien também chama uma torre em Isengard pelo mesmo nome. O Orthanc é essa somatória de ørlögs e atributos herdados de nossos ancestrais. São os ørlögs que independem de nossas escolhas, se você é saudável ou não, rico ou não, onde nasceu, qual nome te foi dado, bênçãos e maldições sobre tua linhagem, desavenças familiares antigas que te afetem atualmente. Além claro do nome que J. R. R. Tolkien deu a uma torre em Isengard. Bom deixarei o link do conteúdo original que na postagem ficou em itálico, espero que tenha sido uma leitura proveitosa e uma ótima semana. Far vel!

- Heiðið Hjarta

Texto original por: wyrddesigns.

Link da matéria: 

http://www.patheos.com/blogs/pantheon/2011/06/wyrd-designs-understanding-the-words-wyrd-and-orlog/

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Loki - Entre trapaças e tropeços (Revisado).

Bom dia nobres visitantes, dando início as revisões de meus próprios pensamentos e atualizando temas que foram há muito debatidos, começaremos por esta famigerada divindade, que alguns até a negam como tal, ele nomeia este blog e que muito me ensina neste caminho que trilho, falaremos de Loki. Uma figura que pode ser amada por alguns, vista como tudo que há de ruim entre os deuses por outros, como um herói ou um professor por uns, como um vilão ou um tolo por outros, como um ser sem sexo ou com todos os sexos e gostos sexuais possíveis por outros, agradando ou não duas coisas ele não é e nunca será, alguém que não seja digno de nota e irmão de Þórr.

Inicialmente devemos observar a natureza de Loki e isso nos ajudará a compreender muito de seu comportamento. Os Jötnar são desde o princípio da cosmogonia nórdica as forças antagônicas que impedem ou dificultam a imposição tanto da ordem quanto da prosperidade, porém através dos conflitos e das provações que as divindades de Ásgarðr passam, elas se aprimoram e também entendem as reais necessidades para o favorecimento desta ordem e prosperidade, desde a morte de Ymir, passando por apuros com Þjazi, Hrungnir, Þrymr e Útgarða-Loki apenas para citar alguns, porém sabemos bem que nem todos os Jötnar são inimigos dos Æsir, onde esta relação vai desde uma amizade até relacionamento que vem a misturar ambas as linhagens e podemos citar Skaði, Ægir, Járnsaxa, Gerðr e Jörð como exemplos claros.

Logo nada existe na natureza de Loki que o obrigue a ser um inimigo declarado dos Æsir, mesmo por eles deixarem que ele viva entre eles, assim como pouco o obriga a ser o mais confiável dos aliados e ai começamos a entender o ponto chave da natureza de Loki, que é estar fora do controle de qualquer Æsir, sendo tanto uma fonte de inúmeros problemas bem como de soluções para eles que tudo gostam de ter sob controle, pois são nas adversidades surgem as oportunidades para solucionar problemas e prosperar após suas resoluções.

Entendido isso buscamos através dos elementos que circundam Loki compreendê-lo melhor. Seu pai é Fárbauti "golpeador cruel" nome que indica uma natureza violenta de destrutiva típica de um Jötunn já sua mãe Laufey que tem o significado atribuído a folhas, mas também recebendo o nome de Nál significando espinho era tida como esguia e fraca, numa herança de elementos observamos que Loki apesar de aparentemente fraco e pequeno se comparado a outros Jötnar é um incômodo para muitas divindades e ele carrega em si, através de seus filhos com a giganta Angrboða sendo eles o lobo Fenrir, a senhora responsável pelo reino dos mortos que leva o mesmo nome Hel e a famosa serpente Jǫrmungandr o mesmo poder destrutivo que seu pai sugere. Ele também possui dois irmãos um chamado Helblindi, que por sinal é um dos nomes que se dá a Óðinn tanto no Gylfaginning quanto no Grímnismál além de Loki mesmo fala deste parentesco deles em Lokasenna, e outro irmão é chamado Býleistr e pouco se sabe dele. Entretanto é válido lembrar que das andanças de Óðinn pelo mundo quando acompanhado o costumava fazer na presença de Hœnir e Lóðurr e que foram estes três responsáveis pela criação da humanidade e não me resta dúvidas que Lóðurr e Loki são a mesma entidade, numa variação de nomes tais como Loptr ou o menos conhecido Hveðrungr.

Ele também se relaciona e nessa relação mantém uma estabilidade com Sigyn, com quem teve dois filhos Narfi e Váli, cujos quais não se descreve uma aparência inumana nos levando a entender que Sigyn não era uma giganta, quanto a sua natureza como uma Ásynjur (divindade feminina), ela é assim descrita por Snorri em uma adição tardia chamada Nafnaþulur que não faz parte das Eddas  que ele compilou originalmente no século XIII, porém ela também é mencionada, através de um kenning para se referir a Loki no poema Haustlöng do início do século X que narra os fatos do rapto de Iðunn e suas maçãs que garantem a juventude dos deuses, nos deixando uma lacuna sobre a natureza de Sigyn como uma Ásynjur. Fato interessante é que ao contrário de Loki, ela demonstra um comportamento de amor e lealdade, mesmo diante da maior adversidade de sua vida que é cuidar daquele que ela ama sendo aprisionado e torturado pela morte de Baldur até o dia do suposto Ragnarok.

Outra característica ímpar de Loki, mas ligada a sua natureza como Jötunn é a capacidade de usar de ilusionismo e se metamorfosear em outros seres podendo inclusive trocar seu gênero e gerar uma cria a partir desta mudança, como ocorre no caso de Sleipnir quando Loki se torna uma égua para atrair o cavalo Svaðilfari para atrasar a construção dos muros de Ásgarðr, fazendo com que o construtor dos muros perca a aposta e em sua ira se revelasse um Jötunn para finalmente ser morto. Entre as várias formas que Loki adota através das histórias estão a de mosca, pulga, salmão, foca e égua, e nos seus disfarces onde ele não esconde o rosto e claramente faz os observadores o terem como mulher, o que pode ser interpretado tanto como ilusionismo como uma troca de sexo, isso pode ser observado tanto na Þrymskviða onde Þórr ao se disfarçar de mulher encobre seu rosto, porém Loki não, sendo que o rosto de Loki jé é conhecido pelo gigante Þrym nesta história e o mesmo não reconhece Loki se passando por dama de honra que acompanha Þórr disfarçado de Freyja, também temos o caso de Þökk a giganta que não lamenta pela morte de Baldur, mantendo o assim morto no reino de Hel, logo sobre a possibilidade da transexualidade de Loki só não vê quem não quer.

Não apenas nas questões de gênero Loki mostra um comportamento que ignora regras e padrões como também na forma em que lida com os Æsir. Inúmeras as vezes em que Loki está na presença das divindades e causa problemas a elas as expondo a riscos apenas para posteriormente vir com soluções que trouxeram maiores benefícios a um cenário que antes não haviam tais vantagens. Resumidamente podemos citar com exemplos como dito anteriormente a construção dos muros de Ásgarðr e o presente que Óðinn acabou por receber sendo ele Sleipnir, de quando cortou os cabelos de Sif e da sua aposta com os anões filhos de Ivaldi o resultado não foi só o cabelo de ouro de Sif, mas também rendeu para Freyr o Gullinbursti um javali dourado de guerra capaz de andar sobre o ar e a água e brilhar em qualquer lugar sombrio como se fosse o  próprio dia além o barco Skíðblaðnir que cabem todos os deuses e suas armas sempre encontrando bons ventos e alcançando o seu destino, para Óðinn renderam o famoso anel de ouro Draupnir que pode se multiplicar bem como sua certeira lança Gungnir, por fim e provavelmente o mais importante essa aposta rendeu a Þórr o maior medo de todos os Jötnar, seu mortal martelo Mjölnir.

Loki também é responsável pelo resgate de Iðunn e suas maçãs para manter a imortalidade das divindades e da perseguição eles conseguem matar o gigante Þjazi que o forçou a sequestrar Iðunn, decorrente disto a giganta Skaði após ser recompensada pela morte de seu pai deixa de ser uma inimiga dos Æsir. Loki também engana Þjálfi irmão Roskva em uma viagem onde ambos os irmão recebem Loki e Þórr e ao estarem famintos o deus do trovão faz com que suas cabras sirvam de refeição e ele possa revivê-las no dia seguinte, orientado por Loki o jovem Þjálfi quebra o osso da perna de uma delas para chupar o tutano do osso e no dia seguinte a mesma revive manca e Þórr irado exige uma recompensa que acaba sendo o próprio garoto e sua irmã se tornando servos dele.

Se de fato podemos falar dos comportamentos destrutivos de Loki estes se representam quando o mesmo inveja Baldur e planeja a sua morte e após matar um servo de Ægir o anfitrião da festa e insultar e revelar muitos segredos dos deuses perante uns aos outros ele terá um filho transformado em lobo e o outro morto e com as tripas dele será acorrentado e com uma serpente que despeja um veneno doloroso em seu rosto torturado até ser liberto e se vingar dos Æsir no Ragnarökk. Fora este episódio temos também o caso em que Loki se transforma em uma pulga para roubar o famoso colar Brísingamen dela e ele é perseguido por Heindallr que busca reaver o colar e devolver para Freyja, nessa perseguição tanto Loki quanto Heindallr tomam a forma de foca e Loki acaba por perder a batalha e devolver o colar, criando uma animosidade entre ambos que só seria resolvida no Ragnarökk onde ambos se matam. Existe uma versão deste conto em que ele está realizando este furto sob ordem de Óðinn, entretanto esta versão chamada Sörla þáttr que foi compilada por dois padres cristãos porém a versão é obviamente alterada e não corresponde aos comportamentos divinos. Mas assim como aparentemente não faz sentido Loki cortar o cabelo de Sif não faria muito sentido ele ter posse do Brísingamen, então fica a dúvida das intenção do ato dele.

Feita essa extensa análise da participação de dos laços que ligam Loki ao universo das divindades vamos ponderar o que segue. Ainda que haja uma série de conceitos como honra, ser ou não ser louvável e algo que se aproxime de um padrão do certo e do errado na sociedade nórdica pré-cristã de fato não falaríamos em bem ou mal, valores que vieram a se infiltrar nos contos e nas próprias pessoas posteriormente com o contato crescente com a religiosidade cristã, nas quais Loki se enquadra perfeitamente como um "lúcifer nórdico" o antagonista perfeito. Entretanto Loki representa a mudança pois é ele quem a propõem mais avidamente indiferente da vontade das demais divindades, ele também promove a mudança na vida das pessoas indiferente da vontade delas, e uma coisa deve ser bem esclarecida, aqueles que se consideram seus filhos, ou seguidores, ou aliados, ou servos ou seja lá como eles se denominem, nenhum deles está livre do caos, da mudança e da atenção especial e indesejada que Loki pode colocar sobre eles.

Obviamente que aqueles que entendem o que Loki propõem sofrem menos, aprendem mais e aproveitam melhor e "ajudam em seu trabalho", fora isso como costumo dizer, rezar para um furacão não fará ele desviar de rota. A partir do momento em que o caos passa a favorecer este ao invés daquele, ele deixa de ser o caos, não é Loki que te favorece, é você que aproveita ou não as oportunidades em meio as adversidades e nessa hora a sagacidade daquele que se diz filho de Loki é o que vai contar, assim como não se fazem heróis ou sagas em tempos pacíficos. Então faz teu nome jovem.

Outra coisa não menos importante, quando você fala de um ser livre, caótico, egoísta, não espere muita atenção dele, muito menos ser um escolhido ou campeão dele, as motivações de Loki como pode se observar são extremamente mutáveis e mesmo quando os fatos se concluem, aos nossos olhos eles parecem conclusos quando ainda podem fazer só parte de um esquema maior, uma vez que nada é necessariamente linear no comportamento e no pensamento dele, então também fica a dica para os lokeanos de plantão, ter uma mente aberta as possibilidades e uma rápida capacidade de se adaptar as situações e as dificuldades é uma das marcas dele. Pessoas quadradas não fazem o perfil.

Por fim, existe uma diferença entre ser seguido e ser respeitado e Loki merece todo o nosso respeito.

Espero ter elucidado algumas questões sobre ele, posso escrever parágrafos e parágrafos sobre ele e mesmo assim jamais se esgotaria o assunto, pois delimitar o Caos é insanidade e lembre-se:

Não se importe com o que Loki pensa, pois ele pouco se importa com o que os outros pensam, inclusive você. Far vel!

- Heiðið Hjarta.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Sobre o Freyfaxi e Hrafnkell Freysgoði.

O conto que segue é uma sinopse de uma saga em 20 capítulos que sintetiza a história de Hrafnkell Freysgoði e de seu cavalo Freyfaxi. Esse texto não se resume apenas a origem do nome do Blót do Freyfaxi, ele também traz uma reflexão sobre juramentos, weregild (indenização), orlog, orthanc, busca por poder, fé, aguardar a ajuda dos deuses e a lealdade dos humanos.

Acredito ser um texto simples e básico mas com potencial de reflexão, façam bom proveito.

Hrafnkels saga

Nós sabemos que o homem norueguês Hallfreðr que se tornou um dos colonos originais da Islândia, desembarcou na costa oeste em torno do ano 900 com seu jovem filho Hrafnkell, um garoto promissor. Hrafnkell era ambicioso e cedo – com a permissão de seu pai – estabeleceu seu próprio assentamento. Ele escolheu um vale inabitado para sua fazenda e a nomeou de Aðalból (Nobre lar). O vale subsequentemente recebeu o nome de Hrafnkelsdalr (Vale de Hrafnkell).

Hrafnkell também erigiu um largo templo e executava cerimonias de sacrifício prodigiosas. Ele dedicou o seu melhor gado a sua divindade patrona Freyr, inclusive seu cavalo favorito, Freyfaxi. Ele jurou que mataria qualquer um que montasse Freyfaxi sem permissão. Por suas atividades religiosas Hrafnkell começou a ser conhecido como Freysgoði (Goði de Freyr).

Hrafnkell ansiava por poder e logo se estabeleceu como chefe por assédio moral as pessoas dos vales vizinhos. Ele tinha uma propensão para duelos e nunca pagava weregild (indenização) por quem ele matasse.

Agora a saga introduz Einarr, um pastor de Hrafnkell. Em uma ocasião Einarr precisa cavalgar para executar seu dever, mas todos os cavalos dos quais ele se aproximava corriam dele exceto Freyfaxi. Ele então pega o Freyfaxi e o cavalga por um dia. Mas depois que o cavalo foi cavalgado, ele corre para Aðalból e o anoitecer chega. Ao ver seu cavalo sujo e molhado de suor, Hrafnkell entende o que ocorreu. Ele sai pela noite com seu machado e relutantemente mata Einarr para manter seu juramento.
O pai de Einnar, Þorbjörn, toma conhecimento da morte de seu filho e vai até Hrafnkell para pegar seu weregild. Hrafnkell diz a ele que não paga weregild a nenhum homem. Ele pensa, entretanto, que aquele assassinato está entre os piores que já fez e se prepara para fazer alguns reparos. Ele faz uma oferta aparentemente favorável para Þorbjörn de cuidar dele pelo resto de seus dias.

Þorbjörn, entretanto, quer nada menos que um acordo formal entre eles como iguais. Sob a rejeição de Hrafnkell, Þorbjörn começa a procurar por formas de alcançar a satisfação do seu desejo. As leis da Comonwealth Islandesa garantem que todos os homens livres têm os mesmo direitos – mas como não havia um poder central, um homem comum teria dificuldade em processar um chefe como Hrafnkell. Ele geralmente precisaria do suporte de outro chefe, tanto para a manobra legal complexa, muitas vezes necessária, e se bem sucedida na þing, para posteriormente fazer respeitar a decisão lá tomada.

Þorbjörn tenta ter suporte de seu irmão Bjarni, mas ele não deseja estar envolvido em qualquer conflito com o poderoso Hrafnkell. Þorbjörn vai em busca então do filho de Bjarni, Sámr. Ele, entretanto, adverte inicialmente para que Þorbjörn aceite a proposta de Hrafnkell, mas Þorbjörn se mantem firme. Sámr não tem desejo em entrar em conflito, mas após seu tio ficar deprimido ele relutantemente concorda. Sámr formalmente aceita o caso de Þorbjörn então ele se torna efetivamente o Demandante.

Sámr começa a preparar o caso contra Hrafnkell e o convoca para o Alþingi do próximo verão. Hrafnkell respeita a tentativa como risível. Quando Sámr e Þorbjörn chegam a assembleia em Þingvellir eles rapidamente descobrem que o maior dos chefes deseja ajuda-los. O deprimido Þorbjörn agora quer desistir, mas Sámr insiste que eles devem seguir não havendo outra opção.

Por uma coincidência Sámr e Þorbjörn encontram Þorkell, um jovem aventureiro de Vestfirðir (Fiordes do Oeste). Ele simpatiza com a causa deles e ajuda os a conseguir o suporte de seu irmão Þorgeirr, um poderoso chefe. Com o suporte de Þorgeirr Sámr dá procedência completa a causa. A lei tem Hrafnkell por culpado, e ele cavalga para seu lar em Aðalból. Sámr agora tem o direito de matar Hrafnkell e confiscar sua propriedade. Em uma manhã, Sámr, auxiliado por Þorgeirr e Þorkell, chega em Aðalból, surpreendendo e capturando Hrafnkell enquanto ele dormia.

Sámr oferece a Hrafnkell duas opções: primeiro execução no local; ou segundo viver como subordinado de Sámr, desprovido de sua honra e da maior parte de sua propriedade. Hrafnkell escolhe viver. Þorkell adverte Sámr que ele irá se arrepender de poupar a vida de Hrafnkell.

Sámr então toma como sua moradia em Aðalból e convida os locais para um festejo. Eles concordam em aceita-lo como seu novo chefe. Hafrnkell faz para si mesmo uma nova casa em outro vale. Seu espírito e ambição permanecem intactos, e pouco depois de alguns anos de trabalho duro ele se estabelece novamente como um fazendeiro respeitado.

Þorkell e Þorgeirr decidem entregar Freyfaxi ao seu verdadeiro dono e o arremessam de um penhasco. Eles também ateiam fogo ao templo de Hrafnkell. Ao ouvir estes acontecimentos Hrafnkell diz: Eu acho tolice ter fé nos deuses, e ele nunca mas fez outro sacrifício. Seus métodos mudam e ele se torna muito mais gentil com seus subordinados. E desta maneira ele ganha lealdade e popularidade.

Após seis anos de paz, Hrafnkell decide que a hora da vingança chegou. Ele recebe notícias do irmão de Sámr, Eyvindr, está viajando perto com pouca companhia. Ele pega seus próprios homens e parte em ataque. Sámr toma notícia da batalha e imediatamente cavalga em direção ao conflito para ajudar seu irmão com um pequeno contingente. Eles chegam tarde demais.

Na manhã seguinte Hrafnkell surpreende Sámr quando o mesmo dormia e oferece a ele as mesmas opções que foram dadas a Hrafnkell seis anos antes, com nenhum weregild pela morte de Eyvindr. Como Hrafnkell, Sámr também escolhe viver. Hrafnkell toma novamente residência em Aðalból, sua antiga casa, e volta a ser o chefe local.

Sámr cavalga para o oeste e procura o auxílio de Þorkell e Þorgeirr, mas eles dizem que ele deve amaldiçoar a si mesmo por seu infortúnio. Ele deveria ter matado Hrafnkell quando teve a chance. Ele não iriam ajudar Sámr em outro derramamento de sangue com Hrafnkell mas oferecem a ele uma residência em suas terras. Ele recusa e cavalga de volta a sua casa. Sámr vive como subordinado de Hrafnkell pelo resto dos seus dias e nunca alcança sua vingança.

Hrafnkell por sua vez, vive como um respeitado líder até encontrar um fim tranquilo, Seus filhos se tornam chefes após sua morte.

- Tradução livre: Heiðið Hjarta.

Pois bem, esta como muitas outras sagas nos mostram como as coisas eram resolvidas, como os valores eram diferentes e como o mundo mudou. Eu me interessei em apresentar este resumo da saga pois traduzi-la por completo seria um trabalho muito elaborado e demandaria muito tempo onde poderia dar acesso a outros assuntos para vocês. De qualquer forma, não deixa de ser menos interessante e talvez desperte em você a vontade por traduzir esta saga ou conhecer outras, fica a sugestão. Aqui temos uma noção do quanto querer ser ambicioso sem repartir a prosperidade alcançada pode ser prejudicial para si. Alguém muito gordo não corre de muitos lobos sozinho. Espero que tenham aproveitado, tenham um bom feriado por aqui e que as suas celebrações de Freyfaxi tragam prosperidade e sejam proveitosas. Far vel!

“ᚠ Feoh byþ frofur fira gehwylcum;
sceal ðeah manna gehwylc miclun hyt dælan
gif he wile for drihtne domes hleotan.”
(Anglo-Saxão)

A riqueza é um conforto para todos os homens;
Apesar de que todo homem deva concedê-la livremente;
Se ele deseja ganhar honra aos olhos do senhor.

“ᚠ Fé vældr frænda róge;
føðesk ulfr í skóge.” 
(Norueguês Antigo)

A Riqueza é a fonte da discórdia entre parentes;
 o lobo vive na floresta.

“ᚠ Fé er frænda róg
ok flæðar viti
ok grafseiðs gata
aurum fylkir.” 
(Islandês Antigo)

A Riqueza é a fonte da discussão entre parentes;
o fogo do mar; e o caminho da serpente.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O que é o Friðr ?

Olá caros leitores, conforme havia informado na postagem anterior, hoje vamos adentrar um tema que foi brevemente explorado e hoje será melhor esclarecido. Conforme havia falado ao buscar uma religião as pessoas têm uma necessidade, que em geral trata-se do aspecto social de estarem inseridas em um determinado grupo onde vão procurar por uma identificação através da similaridade de crenças, teorias e práticas e a busca pela paz de espírito, almejando tornar mais leve e dar um maior sentido a sua existência e a outras questões ao redor dela num mundo cada vez mais caótico, materialista, e artificial.

Pois bem, em que pese a existência de datas para serem celebradas, de divindades para serem conhecidas, de sagas para serem estudadas, runas para serem entendidas, os segredos do Galðr e do Seiðr para serem desvendados, todo o esforço para o acúmulo desse conhecimento vai se tornar em vão, a menos claro que você só seja um acadêmico/historiador ou curioso/entusiasta da cultura nórdica. Então se pergunte por qual motivo você buscou esse caminho para que ele faça sentido e você perceba em si o quão perto ou longe está dos seus objetivos. E um objetivo que deveria ser conhecido e comum a todos é a busca pelo Friðr e é do que vamos tratar agora e ao final vão entender o peso dessa palavra.

Atualmente entendemos que Frith é uma palavra do Inglês Antigo falado na época medieval com significado similar a palavra e sentimento de paz, no Nórdico Antigo temos o termo por friðr. Porém ao abordar o tema como paz, devemos nos distanciar do típico paradigma de paz trazido com o monoteísmo cristão para nós, pois o sentimento e o significado da palavra é bem mais abrangente. Friðr também simboliza paz, mas de um universo de ideias paz é apenas uma delas. 

Entenda que você é dono ou tem parte em um terreno que será uma fazenda, para esse terreno prosperar ele precisa estar estável, protegido e seguro, todos devem trabalhar arduamente nele cada qual fazendo aquilo que melhor sabe, e assim esperar que uma boa colheita venha e os frutos desta colheita sejam repartidos igualmente entre as pessoas que trabalharam, equivalente claro ao esforço de cada um nesta colheita. E caso essa plantação seja ameaçada seja por alguém que quer essa colheita, pelo mal tempo, por ameaças internas na própria colheita, como pessoas ambiciosas, descontentes ou meramente sabotadoras, todos que nela trabalham e querem ver ela prosperar devem se unir e proteger a colheita para que ela possa continuar a dar frutos. A ordem estabelecida, a lealdade adquirida, os frutos colhidos da prosperidade e até a festa pelo trabalho desenrolado, num todo serão o Friðr alcançado.

Então o Friðr não se resume meramente a buscar estar em paz, paz costuma ser um dos resultados da busca pelo Friðr mas de longe é o principal e o único. Nós vemos no esforço das divindades Æsir em criar um mundo para elas Ásgarðr, proteger esse mundo e colher os benefícios desse mundo criado e protegido por elas, um paralelo na busca pelo Friðr. Nesse ponto podemos observar a guerra e armistício com os Vanir e as constantes adversidades na qual os Jötnar (dada sua natureza caótica) tomam lugar como principais antagonistas uma forma da manutenção deste Friðr. Assim como o esforço deles em criar Miðgarðr e designar um protetor à humanidade e auxiliar a humanidade em seu desenvolvimento e orienta-la na direção de um comportamento mais favorável a busca deste objetivo.

Logo como podem perceber Friðr compreende não somente paz, mas bem como cooperação, ordem, harmonia, lealdade, proteção, amizade, estabilidade e segurança. Todos esses elementos compreendem o universo deste objetivo final que é o Friðr. Bom entendido o seu conceito, vamos compreender suas fontes.

Você e os seus próximos - No nível mais individual possível a sua relação com os demais será sua fonte de Friðr. E é importante observar que esses demais envolvem principalmente sua família sanguínea, seu kindred se este for o caso e as pessoas que amamos que podem estar em um dos dois grupos anteriores como aquelas que denominamos nossos amigos mais próximos. Nesse ponto estamos nos referindo quanto ao seu comportamento salutar com essas pessoas e grupos de pessoas, logo as suas responsabilidades para com elas, as alegrias, os fardos, as liberdades e a natural relação de mutualidade com essas pessoas. 

O povo e sua liderança - Num nível mais amplo ainda que incomum aqui em terras tupiniquins, mas esperamos que futuramente não e busquemos trabalhar nesse sentido, outra fonte de Friðr é o laço de lealdade entre o povo e seus líderes, no caso ai entramos em uma relação de confiança e expectativa, aonde o líder de um kindred, de uma aliança de kindreds, de alguma representatividade popular, demonstre através não só de palavras e pensamentos, mas bem como atos, merecedor do seu privilégio e capaz de carregar seu fardo com dignidade. E muitos se perguntam por qual motivo essa relação é uma fonte de Friðr. Bom sabemos que em um mundo influenciado pelos conceitos políticos de Democracia lideranças, principalmente não carismáticas e não cooperativas com o povo são facilmente alvo de desrespeito e perdem sua credibilidade, porém um Estado sem uma liderança (e veja que liderança não se confunde com ser dono) é um Estado sem rumo ou direção, um local de incertezas, onde hoje a lei está ali e amanhã não está mais, ou só para uns e não para outros. Não há paz, não há segurança, não há como prosperar (talvez só através de oportunismo). Então imagine agora se um belo dia todos os deuses de Ásgarðr se voltem contra Óðinn? Com tamanhos poderes presentes quem seria o mais apto a guiar? Os Jötnar não se aproveitariam da situação? Estariam prontos para viver em meio ao caos resultante? Então a lealdade entre o povo e suas lideranças é sim uma fonte de Friðr. Ainda que aquela liderança possa não vir a ser um familiar, ou mesmo um amigo próximo, é uma relação de confiança necessária, que busca o benefício coletivo.

Nós e o mundo sagrado - Por fim e primordialmente importante a nossa relação com as divindades e demais entidades espirituais é uma fonte de Friðr. Bom é fácil gostar de algumas bandas, deste ou daquele jogo, ter um martelo bonito no pescoço, ter estudado vários livros e se orgulhar do grande erudito que é no saber do universo pagão nórdico. Mas isso não é espiritualidade, isso não é contato com os Æsir e por fim isso não é fonte de Friðr. Você tem a sua liberdade mas você também têm as suas responsabilidades e numa religião que preza pelo respeito aos ancestrais, não lembrar das divindades, ou só lembar delas por tal dia da semana ser o dia daquela divindade é ser um péssimo exemplo de integrante daquela fé. Nós não somos cosplay de Vikings, nós não somos só um fã clube de bandas, muito menos um lugar fácil "para se pegar alguém", nada contra quem quer curtir a vida, mas nós somos algo sério ou nós não somos nada. Então se fazer blóts, conhecer sobre as divindades, trabalhar pelo friðr, buscar trabalhar sobre quem você é, ajudar aqueles que precisam de ajuda nesse caminho, se tudo isso for chato para você, faça um favor a si mesmo, não se rotule, siga em frente, não se iluda e não iluda ninguém, tem gente séria trabalhando por aqui. Mas se você sabe o quanto isso é sério e vai se orgulhar do seu trabalho em si, nos outros ou com os outros, seja bem vindo, faça o melhor que puder da forma que puder e isso por si só será louvável.

Encerrando e não sendo menos importante, buscar pelo Friðr não significa que você vai gostar de todo mundo, que você vai ser um hippie aplaudindo o por do sol, nem que você tem que engolir familiares, falsos amigos, ou condutas equivocadas dentro do seu kindred, nem ficar correndo atrás dos outros pela fé dos outros, quem não quer trabalhar dificilmente terá do que desfrutar. Buscar o Friðr também é buscar preservá-lo e numa plantação, pragas devem ser retiradas ou todo trabalho será perdido, nem tudo vai depender de você, mas faça a sua parte e aqueles que realmente seguem a fé vão te ajudar e no futuro você será lembrado por todo o trabalho que fez e até lá aproveite todas as colheitas que puder e garanta as próximas para que o trabalho dos outros que vierem possa continuar. Encerramos sobre o Friðr espero ter esclarecido. 

Semana que vem talvez não haja postagem por conta do Carnaval pois estarei viajando e também ocupado, mas os trabalhos continuam. Mais uma vez obrigado pela sua paciência e pelo seu tempo. Far vel!

- Heiðið Hjarta.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Entre a expectativa e a realidade.

Bom dia caros leitores, em minha última postagem iniciei alguns temas onde faço a sugestão que os novos heathens busquem dar uma maior atenção a eles por se tratar de pontos que vão acompanhá-los desde o começo de sua caminhada dentro de nossa religião rumo ao amadurecimento da sua espiritualidade. Como se trata de uma religião na qual a informação não é centralizada, a pesquisa será uma constante, a reflexão das suas pesquisas também, claro que nada impede você de confiar no estudo prévio feito por alguém, mas se apoiar apenas na reflexão alheia é deixar de viver e realmente aprender no próprio caminho, deixar inclusive de somar para as gerações futuras do nosso caminho, então não espere que um Goði/Gyðja ou Skald vá saber tudo ou te falar tudo, eles não vão, até o Alföðr têm seus corvos para saber mais e ele mesmo andava por ai para aprender mais ainda.

Uma outra expectativa comum é acreditar que você está entrando em um mundo onde você deverá aprender a jogar runas, descobrirá que é sensitivo e diferente, vai se deparar o tempo todo com entidades espirituais, vai buscar viajar os nove mundos, buscará por Galdr e por Seiðr e que você vai sair fazendo todo tipo de magia que conseguiu ler nesta ou naquela Saga, isso se você leu alguma Saga, ou neste e naquele livro. Eu sempre tive o costume de lembrar as pessoas que nem todo fazendeiro tinha que ser também uma pessoa que jogava runas, e se você conseguir fazer os dois ótimo, ninguém está dizendo que é proibido, mas você não é menos especial ou importante se não trabalhar com Galdr ou Seiðr, e as descobertas vêm com o tempo, até  Skollvaldr precisou de nove dias e nove noites para descobrir muita coisa que não sabia, vá com calma.

Gostar de algumas bandas, pendurar pingentes no pescoço, fazer uma tatuagem e saber o básico pode parecer ser o suficiente mas não passa de uma armadilha. Quem não cuida da sua plantação não sobrevive ao Inverno. Nada contra o seu gosto musical, é até interessante que de alguma forma pois isso propaga a sua religião de uma forma mais simples e acessível, mas você vai continuar preso ao conceito de virtudes e pecados, vai continuar vendo o sagrado distante de você, as divindades como novos mestres, vai esperar por um céu e por um inferno, vai acreditar no Ragnarok como uma batalha entre o bem e o mal, vai ver Loki como o principal antagonista de tudo (incrível como ninguém lembra do Surtr) e o pior de tudo... Vai ficar gritando na internet Hail hoje é quarta feira dia de Óðinn. Não precisamos avisar, ele sabe que dia é hoje, guarde sua euforia e determinação para pesquisar, conhecer novos heathens, realizar um blót, etc. Com certeza essa atitude será muito mais louvável da sua parte, você também pode escutar outros gêneros musicais e gostar de outras culturas e isso te trará muitos benefícios Loddfafnir.

Infelizmente nós não somos tão unidos quanto deveríamos de fato, isso se dá por inúmeros motivos, mas creio que o principal é algo muito comum na cultura brasileira, a dificuldade de conviver com as diferenças, claro que isso não é uma regra pra todos, mas comum a muitos e apenas um reflexo de uma sociedade que foi colonizada por um povo que já trazia todo o paradigma preconceituoso e limitado que os Católicos Europeus carregavam. Ai mais uma vez serei chato, ou insistente, ou preocupado e recomendo essa auto avaliação tanto nos novos quanto nos velhos (e principalmente nos mais velhos), sobre o quanto nós não deixamos de nos ajudar como um povo e ficamos resumimos a segurança e conforto de nossos Kindreds? É algo um tanto quanto difícil de lidar, mas o fato é que é nas diferenças que aprendemos, afinal Gangleri já andou entre os deuses, os Jötnar e entre os humanos para aprender uma ou outra coisa.

E por fim lembre-se, somos todos iguais, cada qual único a sua maneira, mas iguais. Não é seu sangue, sua orientação sexual ou mesmo sua visão política que vai determinar quão louvável você é, mas sim seus feitos e o reconhecimento. Reflita mas faça e então seja! É inevitável e não caberá a nenhum de nós mortais dizer a você se os Æsir e os Vanir te aceitam ou não e se esta ou aquela divindade virou a cara para você e se afastou de ti. Essa relação é extremamente íntima e é até perigoso acreditar em alguém que diz o que uma divindade acha ou deixa de achar de você, muitos de nós heathens mais velhos parecem insistir em ter respostas pra tudo, cuidado pois nós também erramos. Estes seres divinos têm suas características, um é caolho, o outro é maneta, aquele é beberrão, e este é mentiroso, aquela é obcecada pela beleza e aquela outra houve dá ouvidos aquele que ninguém normalmente daria. Eles são bem parecidos conosco, não busque por pureza e perfeição apenas pelas suas naturezas, e como disse nem são nossos mestres, mas nossos amigos e por ultimo e não menos importante, por mais que você goste de um deles e tenha uma afinidade absurda com este ou aquele, lembre-se você é um ser humano, não é uma divindade, faça o seu papel e deixe que ele ou ela faça o seu devido papel, na natureza tudo tem o seu devido lugar e nós fazemos parte disso.

Para a próxima semana vou abordar novamente o tema Friðr de forma mais detalhada e feito isso seguimos em frente com outros conceitos da espiritualidade, com quem são as divindades, quais são as demais entidades, quais são os mundos e a infinidade de assuntos que cercam nosso mundo. Aliás até lá, os que desconhecem os termos e nomes colocados aqui em itálico, fica a dica de pesquisarem durante a semana e assim aprenderem um pouco mais. Novamente muito obrigado pelo seu tempo e até semana que vem. Far vel! 

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Tirando as pedras do caminho.

Caro leitor, bom dia e seja bem-vindo. O tema que vamos iniciar hoje é um assunto básico porém muitas vezes abordado de forma superficial ou sem a devida objetividade. Ao buscar uma religião as pessoas têm uma necessidade, em geral trata-se do aspecto social de estarem inseridas em um determinado grupo onde vão procurar por uma identificação através da similaridade de crenças, teorias e práticas e a busca pela paz de espírito, almejando tornar mais leve e dar um maior sentido a sua existência e a outras questões ao redor dela num mundo cada vez mais caótico, materialista, e artificial.

Quando estamos falando em Odinismo, Ásatrú e demais seguimentos menos populares por aqui estamos falando de rótulos, vertentes com as quais nos alinhamos na maioria dos seus pensamentos, ainda que instituições, kindreds e heathens individualmente venham divergir de terminologias, interpretações e desta ou daquela “regra”. Em parte isso ocorre pela liberdade que caracteriza o paganismo e também pelas agendas pessoais de kindreds e instituições divergirem ao buscar implantar seu ponto de vista através da divulgação de informação e no processo de formação do conhecimento de novos heathens.

Porém nesse universo de pensamentos e comportamentos que forma o paradigma daquele que procura se enquadrar numa religiosidade como a nossa, muitos pensamentos e comportamentos anteriores corrompem o caminho do heathen seja pela falta de informação ou seja pela má formação da sua opinião e consequentemente da sua visão sobre nossa fé.  Então tratemos dos equívocos mais comuns:

Da Descendência – Muito comum é o errôneo sentimento de dúvida sobre a viabilidade de uma pessoa descendente de povos não germanos e não escandinavos poder integrar nossa religião. Isso se dá em parte pelo forte, e não incorreto, pensamento de se honrar e lembrar daqueles que vieram antes de nós. Porém vamos lembrar que estamos falando de Miðgarðr e não só do continente Europeu (não suportaria a ideia de seguir deuses tão limitados), também vamos lembrar que a espécie humana descende do processo criativo das mesmas divindades, e não este ou aquele ramo étnico, e por fim lembre-se, mesmo entre os deuses muitos foram os casos de trocas, através de casamentos que resultaram em filhos, através da troca de cultura, da cooperação e dos conflitos. Logo são as divindades que devem te aceitar, não um fiscal de genética com problemas de auto estima de plantão.

Da Cultura – Muito esperado que as pessoas que sigam as divindades que foram presentes em uma determinada região deste mundo busquem entender e simpatizem ou se identifiquem com a cultura dos povos daquela região. Você não está puxando o saco de nenhum gringo por cultuar os mesmos deuses que os ancestrais deles cultuaram, mesmo porque devemos lembrar que você está resgatando uma fé que foi abandonada por boa parte dos descendentes daqueles que a cultuavam anteriormente e que atualmente, apenas parte deles, busca uma reaproximação com ela. Óbvio que isso não obriga você a SER um escandinavo, logo parabéns se você sabe e pode falar na língua que eles falavam, viver onde eles viviam, se vestir como eles se vestiam ou comer e beber o que eles comiam e bebiam, mas se não puder não se preocupe, entidades tão poderosas como os deuses não têm sua compreensão e alcance tão limitados como nós temos.

Da Desconstrução – Não adianta buscar por novas metas carregando as velhas pedras. Você vai ouvir muito o termo reconstrucionismo, a busca pela aproximação da forma como o mundo era entendido e de como as coisas eram praticadas pelos antigos heathens, mas vai ouvir pouco sobre desconstruir, para criar algo novo é preciso destruir o antigo, destrua-se. Muitos heathens buscaram esse caminho pelo menos em “terra brasilis” por uma aversão a imposição do cristianismo, seja ele protestante, católico ou ortodoxo em sua infância, fazendo com que a busca, normalmente iniciada na adolescência onde se rebelar e contestar é a regra, se torna comum a mudança de visões políticas e religiosas e muitos vão iniciar seu caminho para a nossa fé nessa época e amadurecer aos poucos. 

Porém, durante esse período é muito difícil fazer uma auto avaliação com a devida maturidade, difícil em qualquer época da vida, e a evolução do caminho majoritariamente se dará com conceitos morais e religiosos já pré-concebidos de experiências anteriores tais como bem e mal, um inferno e um paraíso, a servidão, medo e distância do mortal perante o divino, o isolamento do ser humano como algo distinto da natureza, a busca por vícios e virtudes e por fim um livro ou texto sagrado pra usar de base pra sua conduta ou para julgar o comportamento alheio. Por ser um tema extenso será melhor destrinchado em oportunidade futura. Mas em resumo tais pensamentos e comportamentos devem ser estudados, entendidos, desassociados e por fim extirpados do seu caminho e de si a menos que queira fazer um sincretismo – e eu pessoalmente não vejo muita vantagem em sincretismos religiosos, sejam no paganismo ou fora dele – entre a antiga religião que seguia e seu novo caminho, vivendo duas coisas distintas como se fossem uma só sem evoluir em nenhuma delas.

Do Friðr – Então você escolheu este caminho, mas por qual motivo? As religiões têm suas entidades, seus conhecimentos, seus entendimentos, mas o que essa tem a te oferecer que você busca? Bom, você já ouviu falar da iniciativa Friðr? Pois é, piada a parte, um dos elementos mais fundamentais em nosso meio é ignorado constantemente por aqueles que estão chegando, e por muitos que já estão entre nós a tempo também, e por conta disso muitos indivíduos em nosso meio acabam sendo fonte de conflito ao invés de Friðr. Apesar de ser um tema extenso vou tratá-lo de forma breve e futuramente será melhor debatido. Do inglês antigo Frith, a palavra se aproxima do conceito de paz, porém está muito longe do clássico pacifismo, de uma passividade ou mesmo de uma apatia. Um estado psicológico que te traz na maior parte do tempo uma combinação de alegria, lealdade e segurança, trata-se de um pensamento acompanhado por um comportamento, ambos verdadeiros e livres, onde se busca este estado harmônico, saudável e seguro junto ao seu kindred (se você fizer parte de um) e Amigos (não conforme a ideia de amigos do Facebook). Esse pensamento-comportamento também se replica ao relacionamento que ocorria/ocorre entre a lealdade do Povo para com seus Líderes e por fim do Povo com o mundo sagrado, o que envolve as Divindades, Ancestrais, Espíritos da Terra, etc, através do blót, das festividades comunitárias e principalmente do pensamento-comportamento promovendo esse sentimento de um estado livre, harmônico, saudável, amistoso e seguro, promovendo o Friðr. Resumindo não adianta trocar presentes em uma data do ano e trocar elogios, facadas, espadadas e machadadas no resto do ano.

Esses são aqueles que considero os principais pontos de conflito e confusão que um heathen no começo do seu caminho deve acabar por se defrontar e que sem uma auto avaliação e talvez um auxílio externo, possa a vir construir sobre si todo um paradigma de ilusões que pode ter como desfecho uma natural decepção e por fim abandono do caminho e talvez até indo a busca de outro caminho, então vamos clarear essa estrada e evitar tropeçar nessas pedras.

Alguns dos temas aqui serão abordados futuramente de forma mais detalhada conforme a necessidade. Espero que tenham gostado deste ponta pé inicial, críticas construtivas, sugestões e dúvidas são bem vindas no comentários e oportunamente poderei ler e responder se necessário. Agradeço a atenção de todos e semana que vem seguimos mais um passo, pois nossa caminhada é longa. Far vel!

Heiðið Hjarta.